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Canastra de qualidade
O crescimento tanto qualitativo como quantitativo da produção do Queijo Minas Artesanal da Canastra pode ser observado em vários momentos. Em 2002, o queijo mineiro artesanal conquistou a primeira lei estadual que legislava a seu respeito, tendo se tornado Patrimônio Imaterial Brasileiro em 2008. Já o queijo da Canastra foi contemplado com selo de Indicação Geográfica (IG) em 2012 e ganhou uma série de prêmios em concursos nacionais e internacionais em 2015, 2017, 2019 e 2021. Nesse contexto, outro avanço foi o Selo Arte: primeira lei brasileira que regulamenta especificamente a produção artesanal de queijos de leite cru foi sancionada em 2018.
Revista A1
Mas como se chegou a isso? Que tipo de práticas foram adotadas para que se atingisse esse crescimento? Quem foram os agentes responsáveis por esse movimento? Em suma, foram esses questionamentos que levaram os pesquisadores Letícia Bastos (professora do IFMG Campus Ouro Branco), Flávia Consoni (professora da Unicamp) e Fernando Mesquita (professor da UFSC) a publicar, este mês, o artigo “Crescimento e sofisticação produtiva do Queijo Minas Artesanal da Canastra: uma leitura a partir dos processos inovativos em recursos naturais” na revista Sociedade & Natureza (considerada A1 pela Capes).
Para encontrar respostas para essas perguntas e entender o papel da inovação no crescimento da produção desse tipo de queijo, esses autores fizeram uso de vários recursos de pesquisa combinados, como por exemplo, revisão bibliográfica, levantamento de documentos e entrevistas com produtores e pesquisadores da área do queijo artesanal.
Similaridades com outros países
Com base nesses levantamentos, encontraram similaridades entre a dinâmica produtiva do queijo da Canastra e outras culturas que estruturaram inovações baseadas em recursos naturais, também de países em desenvolvimento como Chile (vinhos e salmão), México (arroz e queijos artesanais) e Etiópia (flores). Entre essas semelhanças, observou-se, por exemplo, “a necessidade de uma base científica que contribuísse para a definição de melhores estratégias de produção e de regulação; a utilização de tecnologias e métodos que estivessem adaptados às especificidades socioambientais locais e a realização de intercâmbios de conhecimentos (especialmente entre produtores e pesquisadores) que promovessem aprendizados interativos voltados para a consolidação dessas cadeias produtivas”, explica Letícia.
Produtores & pesquisadores
Assim, ficou claro que, também na produção desse tipo de queijo, a inovação no que tange ao uso de recursos naturais depende de ações relacionadas ao fluxo de conhecimentos, no caso entre produtores e pesquisadores envolvidos nessa cadeia produtiva. “Isso permite que se produza tecnologias e práticas inovadoras mais assertivas para as demandas socioeconômicas locais, mesmo diante de fragilidades típicas de países em desenvolvimento”, comenta a autora.
Outra conclusão do estudo é que, esse trabalho em conjunto gerou a superação de entraves que impediam o crescimento dessa cadeia produtiva, motivando novos produtos, qualificações e até mesmo profissões. Como exemplos, o estudo aponta que: a busca dos produtores por autonomia em relação a intermediários na comercialização estimula iniciativas de marketing digital e gera novas ocupações; a expectativa em adquirir autorização para a venda leva muitos produtores a participarem de cursos e, com isso, a adaptarem seu modo de fabricação; as autorizações geraram ganhos de competitividade e a entrada em nichos de mercado com maior valor agregado. A partir daí, a valorização de novas possibilidades de maturação do queijo produzido com leite cru levou à criação de produtos e à consolidação do “afinador”, um profissional que é responsável por desenvolver técnicas específicas de maturação voltadas para a produção de queijos com novos sabores, aromas e texturas.
Desse modo, apesar dos inúmeros desafios estruturais de regiões periféricas, os produtores de queijo artesanal da região da Canastra, junto a profissionais ligados à instituições de ciência e tecnologia, conseguiram promover uma complexa interação de conhecimentos que gerou inovação e contribuiu diretamente para seus diversos êxitos e premiações.
Dinter
A prof. Letícia foi aluna do Doutorado Interinstitucional (Dinter) entre o IFMG e a Unicamp.