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Carta à Comunidade Acadêmica do IFMG Campus Ouro Branco

publicado: 18/05/2020 10h19, última modificação: 23/05/2020 23h19

Queridas(os) docentes, técnicos(as), estudantes e familiares,

Em razão da impossibilidade do encontro presencial, escrevemos. Esperamos que, dentro do possível, estejam todos bem e, principalmente, com saúde.

Passamos por um momento de enorme dificuldade e de desafios sem precedentes à nossa geração, impostos pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Essa realidade culminou na adoção de medidas emergenciais em escala global, que afetaram e alteraram os mais diferentes aspectos da nossa vida cotidiana.

No campo educacional, milhões de alunos no Brasil e em todo o mundo tiveram as aulas presenciais suspensas. Nesse cenário, a fim de nortear as decisões sobre as medidas necessárias para minimizar os efeitos dessa pandemia, o IFMG Campus Ouro Branco constituiu, em meados do mês de março, um Comitê local de Ações e Prevenção do Novo Coronavírus, com representantes de diversos setores.

Em um contexto de muitas incertezas e buscando preservar a vida e a saúde de toda a comunidade acadêmica, bem como de seus familiares, optamos pela suspensão das atividades presenciais. Em seguida, com o intuito de garantir a igualdade de condições de acesso a todos os alunos, decidimos no Conselho Acadêmico pela suspensão dos calendários por tempo indeterminado.

A suspensão temporária do calendário acadêmico não implicou em um período de férias dos servidores. Continuamos a exercer nossas atividades, dentro do possível, por meio do trabalho remoto (a distância), com incontáveis encontros virtuais, primando pela garantia do distanciamento social. Ao mesmo tempo, não medimos esforços para cumprir a nossa missão de desenvolver ciência e tecnologia em benefício da sociedade.

Inúmeras foram e têm sido as ações de enfrentamento à pandemia, com destaque para a produção e doação de escudos faciais, álcool 70%, máscaras de tecido e apoio aos comerciantes e autônomos. Tais iniciativas foram realizadas por meio de parcerias com o poder público, iniciativa privada, agências de desenvolvimento, sindicato, entidades e projetos sociais. Não temos dúvidas de que estes atos se somam à políticas públicas e representam a importância da nossa Instituição junto à comunidade.

Mesmo com a suspensão dos calendários, esforçamo-nos para oferecer aos alunos atividades suplementares, por meio da plataforma Google Classroom em que poderiam ter acesso a conteúdos que, de alguma forma, pudessem contribuir com a sua aprendizagem mesmo a distancia. Apresentamos aos docentes, dentro da referida plataforma, algumas ferramentas relacionadas a ambientes virtuais de aprendizagem.

Se as atividades presenciais de ensino ficaram suspensas, por outro lado, continuamos a desenvolver, remotamente,  projetos de pesquisa e de extensão, a elaborar propostas para a submissão em editais, a promover iniciativas de valorização da arte e da cultura e a disponibilizar acervos em bibliotecas virtuais, assim como informações sobre cuidados com a saúde, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Em termos administrativos, demos sequência às ações de assistência estudantil, estamos finalizando os projetos complementares para darmos início à obra do nosso ginásio poliesportivo, apresentamos à Prefeitura Municipal de Ouro Branco uma proposta de convênio para a manutenção da Unidade 2, encaminhamos a proposta de notificação para a correção de problemas na obra do bloco didático (acionando a garantia da obra), não interrompemos o nosso planejamento orçamentário e demais investimentos na contínua melhoria do nosso campus.

Não obstante, nesse período, temos acompanhado a angústia dos nossos alunos e seus familiares em relação à retomada das atividades presenciais. Muitos se mostraram preocupados com a continuidade dos seus estudos, com as possibilidades de conclusão do curso, entre outros. Há, naturalmente, uma ansiedade em todos nós em relação ao período de prolongamento da suspensão dos calendários e a reposição das atividades.

Após quase 2 meses desta nova realidade, permanecemos sem dúvidas (com perdão do trocadilho) com muitas incertezas. No entanto, temos comprovado a nossa incrível capacidade de adaptação.

Assim, para que possamos planejar possíveis cenários futuros, entendemos que é necessário realizarmos um novo e mais completo diagnóstico junto aos alunos e iniciarmos debates com os servidores. Queremos fazer isso de forma participativa, em constante compartilhamento de discussões com os mecanismos internos de representação, visando entender e contemplar as necessidades da nossa comunidade.

Para tanto, a partir desta semana, realizaremos uma pesquisa cuja participação de todos os estudantes será fundamental, uma vez que tais informações serão importantes para subsidiar as decisões a serem tomadas, sempre atentos às premissas para se ofertar um ensino de qualidade e inclusivo.

O questionário contempla questões sobre saúde, economia e conectividade, as quais nos permitirão verificar se há ou não a possibilidade de retomada dos calendários acadêmicos em um futuro próximo e, sobretudo, nos guiar em relação às medidas necessárias, caso os calendários acadêmicos venham a ser retomados, em consonância com a orientação e parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE).

A pesquisa compreenderá ainda questões sobre a situação de vulnerabilidade social em que alguns alunos podem se encontrar, sobre quem não dispõe de acesso regular à internet de qualidade, ou de ambiente e recursos tecnológicos adequados, o que poderá nos ajudar para diversos e possíveis cenários como atividades não presenciais, ensino híbrido, complementação dos estudos, entre outros.

Em paralelo, pretendemos dar início a uma ampla discussão com o nosso corpo de servidores, com especial atenção e participação dos docentes, através de fóruns e grupos de trabalho, sobre as possibilidades de utilização dos meios virtuais como mediação do processo ensino-aprendizagem, no intuito de não corremos o risco de ofertar uma educação improvisada.

Reforçamos que essas não são questões triviais: os limites e as diferenças de acesso dos estudantes às diversas tecnologias disponíveis podem, sem dúvidas, dificultar e até impedir o cumprimento do preceito constitucional de igualdade de condições de acesso à educação. É indubitável que tentativas precipitadas de atenuar os efeitos da suspensão das aulas podem fragilizar, sobretudo, a educação pública, que atende a população menos favorecida, colaborando para o aumento da desigualdade de oportunidades educacionais.

Em contrapartida, por não termos uma perspectiva de curto e até de médio prazo para um retorno estritamente presencial, não podemos nos furtar de fazermos as análises que estão ao nosso alcance. Precisamos obter informações para planejarmos e tomarmos decisões.

Temos envidado os esforços possíveis para dar conta desse novo cenário, para manter a comunidade informada, para dar prosseguimento, utilizando tecnologias de informação, aos processos internos e externos. Nem sempre conseguimos fazer do jeito que gostaríamos ou do jeito que deixaria todo mundo satisfeito. Mas não tenham dúvida de que o desejo por fazer o melhor tem estado em nosso horizonte.

Tentaremos sanar as deficiências na velocidade permitida pelas circunstâncias do momento. Dia após dia, tentamos descobrir um pouco mais sobre como lidar com essa pandemia e as consequências impostas por ela em nosso cotidiano. Ela nos assusta, é verdade, bem como nos transforma de várias maneiras.

Em tempos de avanço do negacionismo, este é um grande aprendizado para a sociedade brasileira: compreender a importância das Instituições Federais de Ensino, o lugar imprescindível da ciência, do conhecimento, do saber.

Como mencionado, vivemos, sim, tempos incertos. Não temos segurança neste momento para afirmar o que nos espera, quanto tempo ainda precisaremos ficar distantes, mesmo que ansiosos por retomarmos ao convívio cotidiano. Pretendemos fazê-lo somente quando tivermos, coletivamente, o entendimento de que dispomos da segurança necessária. Contudo, seja como for, compartilhamos uma certeza, com olhar geográfico e com a devida permissão do poeta: vamos tirar essa pedra do caminho.

Continuemos fortes e unidos, mesmo temporariamente separados. Vai passar!

Abraços fraternos,

Direção do IFMG Campus Ouro Branco

 

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