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Artigo: Ego, como lidar com ele...

publicado: 24/02/2021 09h30, última modificação: 29/03/2021 12h21

Rosalva Martins

 

Ego (eu) é uma das instâncias psíquicas estudadas por Freud, juntamente com o id e o superego para retratar a mente humana. O ego vai sendo construído, formado, na medida em que vamos interagindo com a realidade, a partir das nossas vivências e experiências (familiares, culturais, sociais, e de trabalho).

A maneira como pensamos, o que pensamos, como agimos, ou reagimos, é determinada pelo ego. Portanto, é ele que sustenta os nossos pensamentos, sentimentos, emoções...  Ele nos impulsiona na realização dos nossos desejos, das nossas vontades. Mas, ao mesmo tempo, ele pode se tornar uma armadilha e acabar nos prejudicando nas relações e na maneira como nos colocamos no mundo. Isso nos acontece quando queremos ter sempre razão, quando ambicionamos sempre levar vantagem, quando nos colocamos numa posição de vítima, ou culpabilizando o outro, quando deixamos de considerar os anseios e as necessidades dos outros. Nesse sentido, quando usamos esses modelos de comportamento, que fora muitas vezes aprendido, corremos o risco de nos tornarmos pessoas arrogantes, egocêntricas e individualistas.

Nem sempre agimos dessa maneira de forma intencional, de propósito. As vezes estamos vivendo no automático e não percebemos e observamos a maneira que lidamos ou reagimos aos fatos. Como foi dito, o nosso ego tende a buscar referências de acordo com as nossas experiências anteriores. E se não ficarmos atentos, a nossa tendência é a de repetirmos o mesmo modelo de comportamento adquirido.

E, se, por exemplo, estávamos acostumados a viver em um ambiente em que se fazia uso constante de hostilidade, de agressividade, inconscientemente, sem percebermos, tendemos a naturalizar a situação e acabamos por reproduzir esse modelo de comportamento nas nossas relações. Outras vezes nos colocamos na defensiva, sempre nos defendendo, imaginando que o outro está nos atacando.

Todavia, quando agimos assim fora desse ambiente, é natural as pessoas demonstrarem certo estranhamento e quererem se afastar. Nessas circunstâncias, tendemos a ficar em uma condição de desamparo, indefesos, vulneráveis e fragilizados. Podemos perder o controle, nos sentirmos mal, com raiva, nervosos, impacientes, e, consequentemente, tendemos a agir com agressividade tanto com o outro, quanto com nós mesmos. 

Assim, gostaria de convidá-los a cuidarmos melhor do nosso ego, fortalecê-lo, para que não nos sintamos abalados, inseguros, diante das situações às quais podemos ficar expostos. O tipo de trabalho que desenvolvemos, acaba nos colocando em contato diário com muitas pessoas (estudantes, pais, colegas) que trazem em suas bagagens, experiências de vida que foram vividas das mais diferentes formas. No caso do professor (a), por exemplo, em muitas situações ele costuma ser o primeiro elo/contato estabelecido pelo estudante dentro do contexto escolar. Ficando mais exposto e, consequentemente recebendo uma carga maior de energia (positiva e/ou negativa), que nem sempre é fácil de lidar. Por isso é importante que o nosso ego esteja fortalecido e não nos deixemos abalar diante de determinadas circunstâncias.

Desse modo, gostaria de chamar a atenção de vocês para entender que nem sempre as falas, a comunicação, os e-mails, às vezes, mal elaborados pelos estudantes, familiares e até mesmo pelos colegas, estão sendo direcionados para vocês como pessoa, eles são direcionados para a posição que vocês ocupam. Posição esta de referência, de identificação. Assim, podemos pensar que o estudante vai querer se comportar dentro do contexto de aula, da mesma maneira com a qual ele vivenciou a sua dinâmica familiar.  Nesse sentido, se em algum momento um estudante se apresentar de maneira mais arredia, hostil, agressiva, procurem entender e busquem contornar a situação. Isso evitará que se sintam emocionalmente vulneráveis e ofendidos dentro dessa relação. Manter o ego maduro, de maneira a racionalizar o fato ou acontecimento facilitará a sua condução ou solução.

Na convivência diária, nós podemos escolher ser menos afetados e agredidos pelo outro. As projeções, as transferências que o outro nos dirige, dizem mais sobre ele do que sobre nós. Quiçá o jeito que o outro se apresenta, é a única maneira que conhece, pois pode não ter tido a oportunidade de aprender de outra forma. Portanto, não nascemos prontos, estamos em constante processo de construção.

Por isso, se faz necessário, sempre que possível, deixarmos de agir de maneira instintiva, mecânica, automática e superficial. Conseguiremos controlar melhor o nosso ego e desenvolvermos autocontrole quando observamos de modo atento o fluxo dos nossos pensamentos e das nossas ações. Ao voltarmos para dentro de nós e detectarmos como estamos agindo e/ou reagindo, muito provavelmente, perceberemos quais atitudes nos prejudicam e quais nos beneficiam.

Devido às posições que ocupamos, somos espelhos, as nossas atitudes serão sempre refletidas e, por vezes, reproduzidas... Assim, quando procuramos agir com mais leveza, cuidamos melhor do nosso ego, nos preservando e evitando o adoecimento tanto físico quanto psicológico. Afinal sabemos que muitas doenças são desenvolvidas, portanto, evitá-las, também depende de nós.