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Pesquisa sobre Conforto Térmico no Campus
Texto: Profª Dra. Fernanda Coelho
A problemática do desconforto térmico dos ambientes do campus do IFMG Santa Luzia tem suscitado o desenvolvimento de pesquisas desde 2016, tendo como resultado publicações científicas, relatório de projeto de pesquisa, Trabalho de conclusão de curso e Tese de doutorado.
O parecer da comissão de Conforto Térmico do campus foi elaborado pelos membros e servidores do Campus Santa Luzia: Fernanda Coelho, Wemerton Evangelista e Lucas Felipe durante os meses de janeiro e fevereiro de 2019 a partir das contribuições das pesquisas mencionadas acima e de medições de temperatura realizadas no mês de janeiro nos ambientes administrativos do campus.
A realização das medições foi exigida pelo Ministério Público do Trabalho - MPT, como parte de inquérito civil aberto no órgão, referente a irregularidades nos espaços do campus, inclusive quanto ao desconforto térmico dos ambientes administrativos. Diante disso, o parecer da Comissão teve como recorte apenas os locais mencionados no processo do MPT.
Devido ao deslocamento de parte dos setores administrativos do Bloco 1 para o Bloco 3 após a finalização de reforma em 2018, as medições de temperatura contemplaram ambientes do Bloco 1 (DEPE, Pesquisa e Extensão e Registro Acadêmico), do Bloco 3 (DAP, Direção geral, Gestão de Pessoas, Gabinete, Psicologia, NAEE) e Biblioteca.
Para a avaliação das condições de conforto foram utilizadas duas abordagens distintas. A primeira adotou metodologia definida pela Norma regulamentadora– 17 de ergonomia do Ministério Público do Trabalho. A norma estabelece limites de 20 a 23 graus Celsius de temperatura efetiva para ambientes onde são desenvolvidas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes. Apesar de se configurar como um instrumento legal, os índices estabelecidos pela NR - 17 são obsoletos, pois foram estabelecidos na década de 1990 e não foram atualizados desde então, ignorando todos os avanços das pesquisas em conforto térmico ocorridos desde então. Sua aplicação também não é adequada para ambientes naturalmente ventilados. Diante disto, a comissão optou por fazer outra análise de conforto térmico através da adoção de modelo de conforto adaptativo, conforme metodologia definida pela norma ASHRAE 55, considerada mais apropriada para a avaliação de ambientes naturalmente ventilados.
Como parte dos setores vistoriados pelo MPT em 2017 foram deslocados para o Bloco 3 em 2018, havia a expectativa de que os ambientes localizados neste edifício apresentassem temperaturas mais amenas, devido à presença de pátio interno e da limpeza de sua cobertura, a qual adquiriu coloração cinza, mais clara do que a cor da laje antes da limpeza (preta), o que contribui para a redução do ganho de calor solar por esta superfície. Apesar das diferenças acima mencionadas em relação aos demais edifícios, os resultados das avaliações realizadas pela comissão mostraram que os ambientes do Bloco 3 apresentam condições mais insatisfatórias do que os do Bloco 1.
As análises realizadas conforme metodologias definidas pela NR 17 e pela ASHRAE 55 demonstraram que todos os ambientes avaliados apresentam desconformidades para os períodos de medição. Entretanto, os resultados das análises através da ASHRAE 55 mostram que os ambientes do bloco 1 apresentam a maior parte das medições dentro da faixa de conforto. Para os ambientes do Bloco 3, apenas as medições do período da manhã encontram-se dentro dos limites definidos pela norma.
Os resultados das medições apontam para a baixa qualidade dos ambientes quanto ao conforto térmico e confirmam os achados das outras pesquisas já realizadas no campus, as quais contemplaram tanto os ambientes administrativos como também as salas de aula. Diante disto, a comissão recomendou que as intervenções a serem realizadas para sanar os problemas observados nos espaços administrativos devem contemplar também os demais espaços do campus, principalmente as salas de aula.
O parecer apontou que os problemas dos edifícios do campus não se restringem apenas ao desconforto térmico. Inclui-se também o desconforto acústico, problemas quanto a estanqueidade, insuficiência de salas de aula, em especial para as disciplinas de projeto, falta de espaços para o descanso, estudo, lazer e recreação. As edificações do campus apresentam problemas crônicos, os quais não devem ser tratados de forma fragmenta, mas a partir de uma abordagem integrada.
Diante disto a comissão recomendou que as soluções a serem adotadas para sanar os problemas observados devam considerar medidas que atendam aos preceitos do tripé da sustentabilidade, visando o bem-estar dos usuários através de condições adequadas de conforto (social), mas também o baixo consumo energético (ambiental) e o baixo de custo operação do edifício (econômico).
O Parecer definiu uma série de recomendações considerando horizontes temporais de curto, médio e longo prazo, com destaque para: a realização de estudo de simulação computacional para subsidiar a decisão quanto à possíveis intervenções na envoltória do edifício, como também para a definição de eventuais sistemas de ar condicionado; elaboração de plano diretor para o campus; realização de projeto de reabilitação dos edifícios; construção de novo edifício de modo a suprir as demandas de espaço físico; a participação da comunidade acadêmica na definição do plano diretor, projeto de reabilitação e projeto de novo
edifício.
Figura 1: Valores de temperatura operativa da DEPE. Fonte: autores.
Figura 2: Valores de temperatura operativa da Biblioteca. Fonte: autores.