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"Não somos mais um lugar de exceção, somos várias", afirma Cidinha da Silva sobre escritoras negras no Brasil
“Há uma diferença significativa entre a década atual e todo o período anterior no que diz respeito a escritoras negras no Brasil. Antes, elas sempre eram casos isolados, hoje nós saímos desse ‘lugar de exceção’, somos várias. Inclusive, há livrarias em que há uma sessão de livros escritos por mulheres negras. Então, o nosso desafio agora é sermos mais lidas, mais estudadas”. Com essas palavras, a escritora Cidinha da Silva, que esteve presente no Café Literário do Campus Sabará, respondeu a uma das participantes do evento que lhe perguntou acerca das mudanças na literatura negra brasileira no decorrer dos tempos.
Ao iniciar suas palavras, a escritora fez um breve relato sobre as perspectivas desse tipo de literatura a partir dos anos 1980, quando surgiram os “Cadernos Negros”. “Já em 2010, há uma profusão de escritoras negras que escrevem nos mais diversos gêneros, entre eles: poesias, dramaturgias, romances e ensaios”, explica.
Sobre o ato de escrever
Por sua vez, a mediadora do debate, Glauciane Santos, fez perguntas acerca do processo de escrita de Cidinha, ao que a escritora respondeu que “são muito distintos, em geral eu trabalho com projetos de livros. Na maioria das vezes, dedico as primeiras horas do dia à escrita, pois é quando tenho mais inspiração e, quando não estou inspirada, eu reviso materiais já escritos, mas ainda não publicados. Já no que diz respeito ao sentimento que a levou a tornar-se escritora, ela explica que essa inquietação surgiu ainda quando era criança, “lendo várias histórias, eu tive vontade de contar as minhas histórias”, afirmou.
Influência... ou gosto
Glauciane perguntou, ainda, em relação a possíveis escritores que influenciaram na escrita de Cidinha. Modestamente, ela disse que não saberia dar essa resposta, “sem dúvida, tem várias pessoas que escrevem que eu persigo há muitos anos, entre eles, Gilberto Gil, Paulinho da Viola e Milton Nascimento, além de algumas escritoras africanas, mas isso não significa que eu acredite que meu texto seja atravessado pelos textos desses autores. Então, prefiro dizer que eu gosto de determinados autores e não que há influência deles na minha escrita. Acredito, ainda, que isso pode ser melhor observado por leitores que se envolvem com os meus textos”.
Livros em vários idiomas
Cidinha é autora de 19 livros, entre eles, os premiados: “Um Exu em Nova York” (Biblioteca Nacional, 2019; PNLD Literário 2021), “Os nove pentes d’África” (PNLD Literário 2020), "#Parem de nos matar!" (Acervo Público da Educação Paulista, 2021) e "O mar de Manu" (APCA 2021, melhor livro infantil). Organizou duas obras fundamentais para o pensamento sobre as relações raciais contemporâneas no Brasil: “Ações Afirmativas em Educação: experiências brasileiras” (2003) e “Africanidades e Relações Raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil” (2014). Tem publicações em alemão, catalão, espanhol, francês, inglês e italiano. É curadora do “Almanaque Exuzilhar” (Youtube), conselheira da Casa Sueli Carneiro e doutora em Difusão do Conhecimento.
V edição
Coordenado pelos profs. Ricardo Machado Rocha e Filipe Bravim de Paula e apoiado por membros da comunidade sabarense, a V edição do Café Literário contou ainda com a exibição de curtas-metragens do projeto Memórias Geraes, bem como exposição e venda de livros. Também atuaram no projeto as estudantes Ana Lídia Morais, Evelyn dos Santos e Maria Clara Cartacho, bem como o auxiliar de biblioteca, Tiago Pereira da Silva.
Da esquerda para a direita: Glauciane, Cidinha, Charlene e o sr. Antônio da Silva (pai de Cidinha)
Da esquerda para a direita: Glauciane, Ricardo, Cidinha e sr. Antônio
Cidinha da Silva junto a estudantes que participam do projeto Café Literário