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Tradutores-intérpretes de Libras do Campus Ouro Preto falam sobre a profissão
Setembro é um mês marcado por diversas datas importantes para a comunidade surda, que remontam aos desafios enfrentados, às conquistas realizadas e à necessidade de conscientização da sociedade no tocante à inclusão. E é quase impossível falar sobre inclusão sem citar o trabalho fundamental realizado pelos intérpretes de Libras.
O Campus Ouro Preto conta, atualmente, com três profissionais: Johnatan Araújo, Luana Dias e Tamires Britto. Para além do trabalho realizado cotidianamente na Instituição, eles têm sido indispensáveis neste período de distanciamento social, dando suporte às lives, reuniões e atividades remotas promovidas pela Instituição.
Para encerrar este Setembro Azul, conheça mais sobre a profissão, explicada pela equipe de intérpretes do campus, que falam também sobre a rotina de atuação e a principal ferramenta de trabalho: a Língua Brasileira de Sinais.
A língua
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a segunda língua oficial do Brasil desde 2002. Como todas as línguas, Libras também possui regras gramaticais, estruturas frasais e possibilita a demonstração de sentimentos e aspectos culturais da comunidade surda. A língua possui também níveis básico, intermediário e avançado.
A formação de um intérprete
Para realizar interpretações, além do conhecimento da língua de sinais é preciso conhecimento específico de tradução/interpretação das línguas. Existem atualmente cursos de educação profissional, extensão universitária e a certificação de proficiência em Libras que garantem o conhecimento para o intérprete. A equipe de intérprete do campus nos explica como é a formação para interpretação dos cursos de graduação e pós: "Conforme a Lei 13.146/2015 § 2º devem possuir nível superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras. Atualmente, contamos com o curso de Bacharel em Letras-Libras para a formação do Tradutor e Intérprete de Libras no nível superior".
Mercado de trabalho
"Temos, na maioria dos casos, os tradutores intérpretes educacionais (que atuam nas instituições de ensino de todas as esferas públicas), os que atuam na esfera jurídica, em assembleia legislativa, câmara municipal, conferências, congressos, intérpretes da esfera artística que se especializam em interpretações de música, peças teatrais e eventos artísticos. Esses profissionais também atuam como tradutores, o que envolve traduzir diversos tipos de materiais, como artigos, notícias, livros, vídeos, etc. O tradutor intérprete atua nos dois sentidos das línguas: português/Libras e Libras/português" afirma a equipe de intérpretes do campus.
O trabalho no campus
Para além da presença nos eventos virtuais promovidos pelo campus, a equipe de intérpretes faz o intermédio da informação entre surdos e ouvintes traduzindo atividades pedagógicas e reuniões a medida em que são solicitados. "Na existência de matrícula de discente surdo e usuário da Libras, realizamos a interpretação das aulas do curso escolhido pelo discente, bem como o acompanhamento em todas as atividades em que ele participar" explica a equipe, que contam, também, como é o trabalho de suporte à professora Clarissa: "o Campus Ouro Preto é um dos poucos campi do IFMG onde há uma docente surda e usuária da Libras. Dessa maneira, sempre que solicitado pela docente, realizamos traduções de textos, interpretações durante as aulas ministradas e traduções/interpretações diversas no contexto do campus".
Para solicitar a ajuda da equipe de intérpretes, acesse este formulário.
Tempo de preparo
A tradução de uma live ou evento requer estudo. A equipe do campus explica como acontece essa preparação: "solicitamos que o palestrante ou organizador do evento, nos encaminhe com antecedência um roteiro do assunto a ser tratado, bem como os materiais que serão utilizados como slides e materiais audiovisuais. Ao receber esse material, dedicamos tempo para estudá-lo com o intuito de realizarmos as escolhas linguísticas mais adequadas para o contexto".
Sair do roteiro, um desafio
Para a equipe, um dos maiores desafios é a imprevisibilidade do discurso e o uso de expressões que não possuem tradução equivalente nas línguas: “Por mais que recebamos com antecedência os conteúdos e materiais que serão discutidos, o discurso em si, muitas vezes não segue um roteiro e a pessoa pode escolher palavras de outra língua para compor sua fala, pode seguir um discurso mais poético, filosófico e temos que identificar o tipo de discurso e adaptá-lo”. Atualmente, segundo a equipe do campus, o trabalho remoto demandou um desafio: a adaptação do ambiente de interpretação, que agora ocorre em suas próprias casas.
O ensino de Libras
A professora Clarissa das Dores é surda e está há nove anos no campus dos quais ela se refere como “período de conquista de espaço e valorização da Libras. Minha presença no campus traz uma representatividade surda”.
Para ela, a presença de uma disciplina de Libras nos cursos superiores já é um grande avanço mas a carga horária é insuficiente para a aquisição de uma nova língua quando comparado ao tempo de ensino da língua portuguesa, por exemplo. "Quando encerro a disciplina, sinto que muitas coisas não foram ensinadas porque o tempo não foi suficiente, sendo muita responsabilidade ter que escolher o que vou ensinar ou não em razão do tempo", afirma a docente. Atualmente, a educação básica não conta com uma disciplina de Libras.
Libras para a comunidade surda
Para a professora Clarissa, a língua proporciona ao surdo a possibilidade de ser protagonista da sua própria vida na medida em que fornece acesso à informação e à capacidade de se relacionar. "Proporciona a construção da sua história, da sua subjetividade, sua autoestima e sua identidade enquanto pessoa surda".
Segundo a docente, Libras vai além do seu aspecto estético. “Implícito a ela vem a cultura e a história da comunidade surda. A cultura surda se difere da cultura popular brasileira e é importante compreender o sujeito que está por trás dessa língua. O surdo não deve ser visto como um coitado, mas como alguém capaz e que utiliza uma outra língua" afirma Clarissa.
Curiosidades
Poucas pessoas sabem, mas cada país tem a sua língua de sinais, o que encerra a ideia de que Libras seja universal.
Setembro é marcado por vários eventos relacionados a comunidade surda. É um período voltado para comemorar algumas conquistas e promover conscientização. A escolha do mês tem uma relação com datas comemorativas importantes: no dia 10 é comemorado o Dia Mundial da Língua de Sinais, dia 26 é o Dia Nacional dos Surdos e no dia 30 o Dia internacional do Surdo. Em relação às simbologias do mês, a cor azul traz a história das pessoas com deficiência durante a Segunda Guerra Mundial. Na época, as pessoas com deficiência eram identificadas pelos nazistas por uma faixa azul que traziam no braço, cujo uso era obrigatório também para os surdos. A cor passou a significar a opressão vivida e, atualmente usada num tom turquesa, significa o orgulho da comunidade.