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Evento celebra história, sociedade e diversidade cultural da Guiné-Bissau
O auditório do IFMG - Campus Governador Valadares ganhou na tarde do dia 27 de julho nova ambientação para receber educadores e artistas oriundos da Guiné-Bissau. O encontro, que contou com a participação de estudantes e servidores do campus e comunidade externa, teve como tema Do lado de lá do Atlântico: história, sociedade e cultura em Guiné-Bissau.
O grupo de convidados era formado por Fernando Djeme (professor e diretor escolar), Jeremias da Silva e Noé Pereira (músicos e produtores musicais), Rosé Nanque (artista plástico), André Mendes (teólogo e missionário), e sua esposa Jenina Mendes e a filha Pérola.
As boas-vindas foram dadas pela professora de artes Kênia Brant, que também integra o NEABI (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas), organizador do evento. “Almejamos desmistificar a história e as riquezas desse imenso continente que é a África”, pontuou. Kênia agradeceu a todos, em especial à E. E. Dr. Antônio Ferreira Lisboa Dias, responsável pela parceria com o grupo, e ainda pela presença da vice-diretora Lorena Cardoso Sampaio.
Giulliano Sousa, servidor e membro do NEABI, agradeceu aos envolvidos no evento e, na sequência, provocou a plateia com reflexões sobre o pouco interesse das pessoas em conhecer a África e o imaginário sobre o continente que é disseminado, em especial, pela mídia. “Quem aqui tem interesse de viajar para os EUA? E quem sonha em conhecer algum país da Europa? E quem já pensou em fazer uma viagem ao continente africano? Faço essa indagação em razão da imagem que alimentamos sobre o continente africano. Geralmente, o associamos a um conjunto de imagens profundamente negativas, como um lugar de fome, de pobreza, exótico, selvagem”.
Giulliano ressaltou que muitas pessoas tratam o continente africano como um único país. “São mais de 50 países com realidades sociais, históricas, políticas, econômicas muito diferentes uns dos outros, mas que a gente nivela, reduz, trata como se fosse tudo uma coisa só; daí a importância desse evento”.
História X Atualidade
Fernando Djeme conduziu a plateia por uma viagem ao passado remoto do continente africano, quando ainda era governado pelos grandes impérios e reinados, passando pela colonização e exploração pelos europeus, os conflitos decorrentes dos movimentos independentes, o processo de divisão do continente até à independência dos países.
“Se hoje a África está como está é por causa do processo de colonização e exploração de suas riquezas sofrido no passado. “Foi na Conferência de Berlim [1855], na capital da Alemanha, que os europeus decidiram como dividiriam e ocupariam a África. Exploraram o continente sem consentimento dos africanos. Ali surgiu a forte dominação de um povo contra o outro. Foi um processo muito terrível, de humilhação, de intimidação. Nossas riquezas são levadas para a Europa até hoje, transformadas pelas indústrias e retornam para serem vendidas cara ao povo, bem caras mesmo”, lamenta o professor.
Valores e Diferenças
O teólogo André Mendes iniciou sua fala com um alerta sobre a confusão de muitas pessoas ao considerar os africanos parentes de um mesmo país e identificá-los quase sempre todos como “angolanos”. Contudo, sua apresentação teve como foco as diferenças e similitudes dos povos africanos bem como os valores que predominam na sociedade africana. Entre eles destacam-se a ênfase na vida em comunidade e a valorização da vida. “Priorizamos mais os relacionamentos do que coisas materiais. É assim: o que um tem e o outro não tem, compartilha. Por isso você chega à África e vê pessoas dividindo um único prato de comida. E daí as pessoas [estrangeiros] assustam. Dividimos uma só banana entre quatro/cinco pessoas. Quando em uma comunidade o pai/mãe viaja, todos da aldeia têm responsabilidade de cuidar dos filhos dessa família”.
André emenda outro exemplo da sociedade africana: a ênfase nos programas da vida. Ele explica que quando a comunidade enfrenta um assunto marcante, chocante, todos têm que se reunir para encontrar uma solução. “Não tem esse papo de que eu não posso ir porque tenho de trabalhar, ir ao dentista, etc. Só quando resolver o problema, cada um volta aos seus programas pessoais”.
“Ao conhecer nossos valores as pessoas assuntam, pois pensam: - Como é que um povo tão carente, que parece que não pensa, pode ter valores tão ricos e importantes como esses? Para nós esses são valores inegociáveis. As pessoas não entendem tudo isso porque muitas vezes conhecem imagens da África só pela televisão, notícias que só mostram coisas ruins. E, na verdade, lá não é bem assim”.
O missionário concluiu denunciando as mazelas geradas pela exploração histórica. “O jogo do sistema capitalista, até hoje, empurra a África para trás; é um sistema mau. Até hoje muitos países não se desenvolveram não porque não querem, mas devido a um sistema que suga, monopoliza, barganha interesses. Na verdade, o grande interesse dos países capitalistas é que nunca avancemos, porque não terão mais matéria-prima, não conseguirão avançar absolutamente mais nada. Por isso eles mantêm o povo africano na ignorância, nas trevas”.
O encontro foi encerrado com uma apresentação artístico-cultural que celebrou os ritmos e danças da Guiné-Bissau.