Tese de professor do IFMG é reconhecida como uma das melhores da USP

Com uma história de vida que se mistura à do IFMG, o docente Ciniro Aparecido Leite Nametala teve sua tese de doutorado reconhecida como uma das melhores pesquisas desenvolvidas dentro da Universidade de São Paulo (USP) em 2023. “Foram 2.722 pessoas que receberam o título de doutor pela melhor universidade da América Latina no ano passado. Só isso já é motivo de muito orgulho! Essas pessoas já estão no topo de uma pirâmide acadêmica muito importante, de uma elite acadêmica. Dentro desse grupo, 39 foram indicadas ao prêmio, não é pouca coisa o que está sendo feito aqui”, declarou o pró-reitor adjunto de Pós-graduação da USP, Adenilso Simão, durante a cerimônia de premiação dos pesquisadores, realizada no dia 26 de novembro, em São Paulo.

Intitulada “Redes Neurais Atencionais aplicadas a modelagem e previsão de preços no Mercado de Eletricidade Brasileiro”, a tese de Ciniro foi defendida dentro do Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia de São Carlos. Foi uma das premiadas na área de Sustentabilidade Econômica e Economia Circular. Em sua 13ª edição, o Prêmio Tese Destaque USP tem como objetivo reconhecer e premiar trabalhos desenvolvidos em 13 áreas distintas. As teses premiadas foram defendidas entre 01/01/2023 e 31/12/2023, com um prêmio principal e até duas menções honrosas. Para o reconhecimento, foram considerados a originalidade do trabalho, sua relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação e o valor agregado ao sistema educacional. 

Sobre a pesquisa

Coordenador do curso de Engenharia da Computação no Campus Bambuí, Ciniro conta que sua pesquisa sobre uma metodologia para prever preços no mercado de eletricidade teve início durante o mestrado na UFMG, em 2015, mas que o trabalho propriamente dito foi desenvolvido na USP, onde o doutorado foi iniciado em março de 2019, sob a orientação do professor Benvindo Rodrigues Pereira Junior. A defesa ocorreu em fevereiro do ano passado.

“O objetivo foi desenvolver uma metodologia capaz de prever o principal indicativo do preço da energia no mercado brasileiro (PLD). Para isso, foi utilizada uma combinação de redes neurais modernas e, em especial, aquelas que fazem uso dos chamados mecanismos atencionais. É uma área de estudo dentro das redes neurais artificiais que vem obtendo sucesso de tarefas perceptivas antes consideradas muito difíceis de serem tratadas por modelos convencionais de inteligência artificial. Um dos destaques da pesquisa é que, ao contrário de muitos trabalhos que aplicaram os mecanismos atencionais em áreas como reconhecimento de imagem ou processamento de linguagem natural, nossa abordagem inova ao levar esses métodos para o contexto das séries temporais. Um aspecto crucial da pesquisa foi a oportunidade de testar o modelo durante a maior crise hídrica dos últimos 91 anos no Brasil, que aconteceu em 2021. Isso nos permitiu avaliar o desempenho do modelo tanto em condições normais quanto durante a crise, levando em consideração diversas variáveis exógenas como aquelas relacionadas a fatores econômicos e também climáticos. A principal contribuição é a criação de uma metodologia reprodutível e um produto tecnológico que podem ser utilizados pelos agentes do setor elétrico para melhorar a segurança e a rentabilidade de suas operações. Além disso, ao elucidar o impacto de diversas variáveis no preço da energia, a pesquisa traz luz ao atual cenário econômico, no qual vemos uma crescente preocupação com eficiência energética e com as mudanças climáticas”, explica.

Relação com o IFMG

Natural de Medeiros, município da região da Serra da Canastra, o professor afirma que sua relação de quase 18 anos com o Campus Bambuí, tanto profissional quanto estudantil, foi fundamental para que alcançasse esse patamar de reconhecimento científico. No depoimento a seguir, Ciniro relata a relação que construiu com o Instituto Federal e a importância disso para seu percurso acadêmico.

“Esse prêmio não é meu, é do IFMG, e vou explicar porquê. Sempre acreditei, em especial por causa dos meus pais, que a educação era o caminho para transformar a minha vida. Foi assim que encontrei no Campus Bambuí não apenas uma instituição de ensino, mas um verdadeiro berço de oportunidades, um lugar que moldou quem eu me tornei ao longo de quase 18 anos. Ali, me formei como Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Foi no mesmo campus, onde hoje sou professor agora, que cresci não apenas como estudante, mas também como profissional e ser humano. Foi onde, ainda como aluno e estagiário, meu interesse por pesquisa começou a ganhar vida, especialmente na área de métodos de previsão, algo que me fascinava profundamente e ainda me fascina.

"Encontrei no Campus Bambuí não apenas uma instituição de ensino, mas um verdadeiro berço de oportunidades, um lugar que moldou quem eu me tornei ao longo de quase 18 anos".

Depois de concluir a graduação, em 2007, tive a felicidade de me tornar servidor público no próprio Instituto quando passei no concurso para técnico administrativo na área de Tecnologia da Informação. Dois anos depois, em 2009, recebi o convite para assumir o cargo de Coordenador de Sistemas de Informação e, mais tarde, de Diretor de TI na Reitoria. Esses desafios ampliaram minha visão sobre o papel transformador da educação e solidificaram meu vínculo com a instituição em uma época em que ela passava por profundas mudanças com a lei de criação dos Institutos Federais. Em 2011, passei em um segundo concurso, desta vez para docente. Foi como se eu estivesse fechando um ciclo e, ao mesmo tempo, começando outro, mais profundo e cheio de responsabilidades.

Sinto que o mérito desse prêmio é meu, da USP, de todos os professores e orientadores incríveis que me ajudaram, mas principalmente dessa escola. Afinal, aqui vivi todas as experiências possíveis. Penso que poucos servidores podem dizer que já estiveram no papel do aluno, do estagiário, do TAE e do docente, como aconteceu comigo. Trabalhei também no Campus Bambuí, no Campus Betim e na Reitoria. Atuei no operacional, na gestão administrativa e na gestão acadêmica. Cada um desses papéis diversos me deu mais do que habilidades profissionais; eles me deram a compreensão de que esta instituição não é apenas uma escola, mas uma base sólida que forma pessoas, constrói histórias e transforma destinos de verdade.

Graças a essa formação, pude fazer, após a graduação, meu mestrado em Engenharia Elétrica pela Escola de Engenharia da UFMG e, depois, meu doutorado pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Estudar nas duas melhores escolas de engenharia do Brasil e da América Latina foi, sem dúvida, um marco, mas sempre soube que todo o alicerce para chegar até lá foi construído aqui no Instituto Federal.

Receber este prêmio me enche de orgulho, mas, antes disso, de gratidão. Não apenas por ser um reconhecimento pessoal, mas principalmente porque ele representa uma oportunidade de retribuir à escola que me formou. Esta instituição não foi apenas parte da minha trajetória; ela é a essência dela. É uma honra imensurável poder devolver algo de valor para o lugar que tanto me deu. Tudo o que conquistei está impregnado de um carinho imenso por essa escola, que continua sendo minha base, minha casa e o lugar onde tudo começou. Se pudesse escolher, gostaria que esse prêmio servisse de incentivo para servidores e alunos, como exemplo de que grandes conquistas são possíveis se você faz parte desta comunidade acadêmica”.

A tese do professor Ciniro Nametala está disponível no site da USP (clique aqui para acessar). O IFMG parabeniza seu docente e também se orgulha dessa história!