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Futuro ancestral sustentável: cultura etnobotânica das comunidades tradicionais brasileiras

por marcio.pires publicado 09/10/2023 16h22, última modificação 09/10/2023 17h01

Professores: Anderson Souto e Cristianele Lima

Nosso futuro sustentável é ancestral: sempre esteve gestado na ancestralidade das comunidades tradicionais rurais e urbanas, as quais são muitas, oficial e extraoficialmente reconhecidas - andirobeiras, cipozeiros, ciganos, ribeirinhos etc. -, para além dos povos originários e dos quilombolas. Todas têm muito a nos ensinar, e um desenvolvimento que se queira, de fato, sustentável requer responsabilidade socioambiental que garanta a sustentabilidade humana desses povos e a valorização de seus saberes e práticas. Para isso, é urgente oxigenar a produção de conhecimento e recuperar, revitalizar tradições, práticas e saberes ancestrais dessas comunidades, os quais, (re)unidos ao conhecimento científico, podem nos ensinar a lidar com os impactos das mudanças climáticas na exaustão dos recursos naturais e na extinção das espécies, por exemplo. Integrar o saber ancestral dessas comunidades às práticas contemporâneas forma um subsídio capaz de promover relação mais equilibrada entre fenômenos naturais e humanos, pois ele ensina sobre biodiversidade, ciclos naturais e técnicas de manejo sustentável. Esse papel de subsídio é o mesmo assumido pelas ciências básicas, raiz do conhecimento científico aplicável e das tecnologias dele derivadas, porque elas impulsionam estudos da natureza e da sociedade capazes de fazer a descoberta e o progresso científico enfrentarem impactos ambientais e humanos negativos e melhorarem as condições de vida no planeta.

Essa conexão ciências básicas e sabedoria ancestral não é só recuo, na medida em que se volta a raízes das próprias ciências - a sabedoria tradicional -, mas é também avanço, na medida em que, destas tradições, cria-se uma poderosa ferramenta de ação transformadora da qual podem surgir soluções "inovadoras" e colaborativas para problemas socioambientais atuais, além de capacitar gerações presentes e futuras para a construção de um futuro sustentável de fato, em que nós tenhamos um outro tipo de existência, mais integrado à natureza e menos antropocêntrico.

É de conexões assim que sobressai a Etnobotânica, estudo e interpretação de conhecimento, significado cultural, manejo e usos tradicionais de elementos da flora (bambu, bananeira, milho, taboa, arroz, sisal, estratos vegetais, óleos essenciais, etc.) por comunidades tradicionais, que geram toda uma cadeia socioprodutiva. Ela representa uma alternativa de preservação das florestas, já que as comunidades que exploram esses recursos, usando-os para seu sustento e sua produção cultural, social e religiosa, veem a natureza como parceira e, por isso, retiram dela só o suficiente para viver bem, respeitando tempos de auto-organização e regeneração dos quais ela necessita. As espécies usadas nos artefatos são conservadas e preservadas, numa outra forma de existir, que nós dá uma grande lição de preservação da e de convivência com a natureza, na qual não há simplesmente um (agro)negócio: nada se perde, nada se desperdiça, e o ser humano não é o único ser possível.

Portanto, a partir do contexto apresentado, o objetivo deste projeto é ver nas práticas desses povos uma possível solução à produção socioeconômica mais sustentável que, oriunda do passado, aponte para um futuro melhor possível, em que, além do baixo impacto ambiental, nossas atividades possam contribuir para manutenção e geração de biodiversidade. Além disso, também estão, nos objetivos do projeto, divulgar e refletir sobre as comunidades tradicionais, compreendendo a necessidade de preservar sua sustentabilidade humana, bem como delas retirar lições para uso prático das plantas, a partir de suas produções de: cestarias, tinturaria, perfumaria botânica, biojóias, artesanatos, utensílios, instrumentos musicais etc.

A metodologia do projeto, que terá duração de um mês, empregará pesquisa e trabalho como princípios pedagógicos para os seguintes passos: estudo teórico sobre comunidades tradicionais e sua sustentabilidade humana, sobre sustentabilidade socioambiental, sobre ancestralidade; estudo teórico-prático sobre produção de artefatos de etnobotânica; produção de utensílios com as técnicas estudadas; construção de uma sala temática para a mostra de exposições, instalações e ações interventivas, como resultado do trabalho.